02/08/2014

"Bed" 1955

Em 2010 tive a oportunidade de visitar Nova Iorque e alguns dos mais emblemáticos locais de Manhattan.












 A visita ao MoMA aguçou a minha curiosidade em relação a uma obra específica...


Odeio a ideia de que uma pintura é um rectângulo que está fixo.
             Robert Rauschenberg
Robert Rauschenberg, Bed1955Combine Painting188x78,7cm


BED, 1955
A Cama de Robert Rauschenberg encontra-se no quarto andar do Museu de Arte Moderna, em Nova Iorque, numa das galerias dedicadas tanto à pintura como à escultura.
A Cama é, literalmente, uma cama. Na sua estrutura física, visual e concetual.  Dentro de uma moldura de madeira lisa foi esticado um lençol branco, servindo de superfície tanto para indicar um colchão como para servir de tela à obra. Na parte superior da tela ou cabeceira da cama foi colocada uma almofada também branca. Uma colcha de retalhos dobrada ao meio ocupa dois terços da obra, desde a almofada até “aos pés da cama”. No topo a colcha faz uns drapeados, umas dobras para dentro e para fora, marcando uma linha ligeiramente diagonal. O padrão da colcha é modular, tipo patchwork, com quadrados e linhas de várias cores e com três barras lisas à volta, uma vermelha, outra amarela e outra vermelha. Saliento o facto das cores aqui referenciadas não serem as exatas, devido à forte possibilidade de terem desbotado.
Na Cama, Rauschenberg fundiu objetos do quotidiano com um certo gestualis­mo pictórico. A obra parece-me dividida em três partes ou secções mais ou menos iguais. A da cabeceira, a do corpo e a dos pés da cama. De cima para baixo, a primeira secção é também ela dividida por uma linha horizontal que atravessa a almofada. O topo está riscado com vários traços a lápis em todas as direções. A secção do meio foi “palco” de muitas intervenções: da modelação da colcha, das pinceladas de tinta de várias cores (azuis, castanhos, vermelhos, verdes, amarelos, pretos e brancos), dos escorridos de tinta branca e vermelha, da textura… A secção de baixo ainda salpicos de tinta branca remetem para várias leituras.
A cama está remexida, entreaberta, proporcionando uma narrativa ao observador. A Cama não sendo cama, não deixa de estar associada ao sono, aos sonhos, à doença, ao sexo, aos momentos mais íntimos da vida.

Pintura diz respeito tanto à arte como à vida… Eu tento atuar nessa lacuna entre as duas.
Robert Rauschenberg

Para Robert Rauschenberg a pintura relacionava-se com a arte e com a vida, por isso procurou agir sempre entre estes dois polos. Talvez a história da Cama de Rauschenberg seja verdade: certo dia ao acordar com vontade de pintar, sem dinheiro para comprar telas, decidiu “pintar a manta”. Usou tinta, lápis, até mesmo pasta de dentes e verniz das unhas. Talvez a colcha da Cama de Rauschenberg tenha sido mesmo um objeto do seu uso quotidiano, tornando a obra pessoal e íntima como um autorretrato. Assim, mesmo tendo perdido a sua função, talvez ela ainda possa estar relacionada com a intimidade de Rauschenberg. Mas é apenas um “talvez” no mundo das possibilidades. 

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